04 setembro 2008

Seis pedaços?

Você percebe que não tem muita noção de tamanho das coisas quando compra uma assadeira de pizza e ela quase não cabe no forno.

17 agosto 2008

Choveu

Repentinamente. Tanto que me surpreendeu numa caminhada rápida. Era possível ver o desenho das nuves no alto do céu momentos antes.

Intensamente. De forma que me encharquei em meio quarteirão. Ventava forte e frio, eu carregando compras frágeis no início da noite.

Rapidamente. Ao trancar a porta, de volta ao apartamento, já não ouvia mais o som das gotas nas árvores, no asfalto, nos telhados.

23 junho 2008

Mais uma etapa?

Até onde? Até quando?

Quando outrem te diz que a tua decisão já está tomada, mas não admitida, e que a insatisfação não-verbalizada há muito tempo transparece no olhar, passou da hora de agir.

Falta saber só onde e como.

Passou mesmo? E agora? Voltamos ao planejamento, aguardamos mais um pouco, ou seguimos adiante, com o que temos hoje? Quantos tropeços, escorregões ainda?



P.S. Hoje há mais certezas e as interrogações são menos inquisitivas que sete meses e meio atrás, quando este texto começou a ser rascunhado.

23 abril 2008

Lua nova

-- É aqui que é o forró? – tive de questionar, pois tocava reggae.
- Que vazio...
- É sim – diz a outra moça que acompanho. – Acabei de conversar com a moça ali, vai começar às dez, na verdade.
-- Hum, vai demorar, então...
- Vai nada. Ah, vamos sentar enquanto o forró não começa.
-- Tá, eu vou pegar uma latinha. Vocês me acompanham?

O reggae não parecia animar as poucas pessoas ali e, como a conversa entre as meninas era uma continuação de um papo anterior, fiquei só ouvindo e observando ao redor. Até que eu descobri a luz intermitente do farol às minhas costas. Aí começaram a reclamar.
- Você não pára de falar, né?
- É... não sou de falar muito. Sempre, quer dizer...
- Sim... Mas, sei lá, se anima!
- Tô tentando, mas parece que não estou no lugar certo...
E voltaram a conversar até o primeiro toque do triângulo. Algumas das poucas pessoas que estavam nas outras mesas, uns mais ousados que começavam a subir uma pedra próxima e os atrasados que começavam a chegar (todos não somavam quarenta pessoas) foram para dentro do pequeno salão ou davam seus passos ali na areia mesmo. As meninas insistiram para que eu dançasse, mas eu preferi ficar quieto ali no canto, com minha segunda cerveja.

- Vou pra beira d’água – anunciei à que veio à mesa num intervalo que arranjou (pois a outra continuava).

Para sair daquele “cantinho” arranjado na areia era preciso ultrapassar uma cerca que, descobri depois, era colocada só à noite.

Vazio. Só. E a sensação de que não estava no lugar certo. Pelo menos não no forró. Pelo menos...

Poucos dias antes, iam esvaindo as possibilidades de passar uns dias longe (ou a mais de quarenta quilômetros) de casa. Isso minava os planos de curtir um pouco mais de sol e menos de cama. Até que um convite surgiu - ou melhor: ressurgiu.

E ecoei aos quatro ventos.

Tenho certeza de que há três ou quatro anos atrás eu não teria aceitado esse convite. A proposta de encarar quase mil quilômetros (isso só de ida) no carro de amigos talvez fosse rejeitada - e a de acampar certamente seria, de forma sumária. Para corroborar a impressão de que eu não iria sair de casa, três dias antes eu não tinha nada para me abrigar à noite.

E, ali, o farol continuava piscando ao longe, não muito longe. Mas por onde se chega lá? A noite não deixa ver.

No dia da partida, ainda havia o temor que assola a todos que vão à praia e a todos que vão acampar: vai chover? Os prognósticos obtidos nos sites especializados não eram muito positivos, mas também não diziam “tempestade”. Além e apesar disso, também temíamos pelo pior: hordas desenfreadas tocando no último volume os maiores sucessos do verão (e os clássicos de verões anteriores).

Mas nenhuma dessas preocupações se concretizou em Itacaré. Até aquele momento, nem parecia que estávamos em algum lugar na Bahia no sábado de carnaval. E as nuvens que se desenhavam em toda a estrada e pousavam sobre a pequena cidade baiana, simplesmente sumiram depois do pôr-do-sol.

Olho para o alto e o céu está estrelado como eu não lembrava mais de ter visto. Estrelas, muitas estrelas... O negrume do céu me surpreende. Morar em grandes centros urbanos nos tira esse tipo de prazer.

Busco o ponto mais próximo da água em que não me molhe, sento na areia fina e branca de frente para o farol, que avisa aos navegantes, a cada dez segundos, dos perigos dos recifes, bancos de areia e pedras na saída do rio. Nesse intervalo, o silêncio luminoso é preenchido pelos cristais no veludo negro.

“Curta! Relaxe! Você está na Bahia!” Essa foi a frase que mais ouvi naquelas poucas horas desde que ultrapassamos a divisa, dita com as sílabas bem cadenciadas, como se quisessem imitar o sotaque local. Mas não era o caso de estar tenso ou nervoso, muito menos querendo trabalhar (isto, aliás, nem se quisesse: não havia cobertura de celular onde nos “hospedávamos”).

Afinal de contas, eu estava só. Me sentia só. Naquele momento, éramos ali eu, as estrelas, as ondas e o farol. Por alguns momentos – não sei quanto, pois fiz questão de me desvencilhar de qualquer coisa que me fizesse lembrar que a humanidade dividiu o tempo em horas e minutos – imagino esta mesma situação se apenas uma coisa tivesse feito de forma diferente nos últimos anos.

Algo que depois me lembraria o “Efeito Borboleta” – o filme, mais que a própria teoria do caos.

Então, era como se o murmurar das pequeninas ondas e o horizonte escuro, pontuado pelo farol, perguntassem para mim. E se...?

Esgotaram-se na dança. Ouvi meu nome aos gritos, como se não tivessem me visto, me chamando para voltarmos ao camping.
- E essa cara?
-- ?
- Não está feliz? Você está na Bahia!, curte o carnaval!
- É rapaz, se anima!
-- ...
- Não era isso que você queria? Está com amigos, num local diferente, fazendo coisas diferentes... Não está mofando em casa...
-- Sim...
- Então! – e faz um gesto de ânimo.
Olho para as estrelas.
-- ... é que parece que falta alguém.
- Aí... Aí não tem jeito.

Chegamos. Cada um se dirige à sua barraca, mas não sem antes uma advertência.
- Melhora essa cara. Não quero ninguém deprimido por perto no carnaval.

07 outubro 2007

O Porto da Cidade

Há algo de intrigante naquela cidade. Tenho a estranha impressão de estar "em casa" lá. Mas isso não é o mais interessante. O que mais me interessou, na verdade, foi a mescla de história quase-qüincentenária com o recente desenvolvimento, ainda não-quadragenário.

A cidade comemorou os 463 anos de ocupação. Alguns prédios da área histórica possivelmente são do Ciclo da Cana - os do chamado sítio histórico, o Porto São Mateus. No que chamo de "novo" centro, a menos de um quilômetro, muitos edifícios aparentemente não viram o golpe de 64. Alguns outros devem ser de outras épocas - por exemplo, não os há do início do século XX (ou as datas foram retiradas em reformas).

Aliás, a ida ao Porto é alguma coisa entre triste e melancólica. Saindo do "centrão", escolhem-se algumas (duas ou três) ladeiras para descer até o sítio histórico. Os caminhos de pedras muitas vezes soltas são íngremes. Indo em frente, tem-se a vista do rio Cricaré e da planície na outra margem, e de velhos edifícios em ruínas.

Não parece ser porque alguém os esteja pondo (todos) abaixo agora para construções contemporâneas. Só alguns casos parece que o dono é novo e quer dar uma "renovada" no ambiente. Em um ponto ou outro - especialmente no alto do morro, há prédios novos, realmente recém-construídos.

Para o leigo em arquitetura aqui (não identifico tão facilmente assim o que diferencia a arquitetura colonial da imperial - tudo é impressionante), a melhor referência para construções antigas são aquelas de fins do século XIX e início do século XX: era moda escrever a data de conclusão do prédio no alto da fachada. O único desses que achei é um de 1928 - possivelmente um comércio - do qual restou apenas a dita fachada.

O prédio da frente, certamente recém-adquirido, exibe aos observadores menos incautos dois tipos de tijolos: o colonial e o contemporâneo - de seis furos. Outro, mais adiante, é menos sutil no terceiro tipo: usa blocos cinza (seriam tijolos ecológicos?). Muitas dessas construções (ruínas) não têm portas, janelas, ou mesmo sinal de que ali houve ou haverá esquadrias ou batentes.

Descendo mais um pouco, chega-se ao Porto propriamente dito. Revitalizado, parece ser uma das áreas de lazer e concentração da cidade. Alguns casarões daquela área foram reformados e dão ar de atração turística ao pedaço. Pequena, a área não tem como esconder - num domingo de festa para a cidade pequena - o que é verdadeiramente rotina ali. O bairro é dos mais pobres da cidade, e quase certamente sofre com os alagamentos sazonais.

As casas novas, feitas aos poucos, muitas vezes sem reboco, não destoam do conjunto das ruínas - embora em sentido oposto. As janelas já estão lá e lâminas de madeira fecham os espaços das portas. Tijolos antigos e novos, mais uma vez, juntos.

Algo me incomodava ali. O fato de parecer tão-gritantemente ser um forasteiro em território desconhecido, as ruínas (mal-assombradas?)... Não: era preciso me alimentar. Mas não seria no Porto que eu me satisfaria. Era uma hora da tarde, sol a pino, e eu precisava subir de volta à cidade.

Emergir é uma boa definição do caminho de volta. Uma ladeira pouco menos íngreme, as grandes pedras dão lugar a brita e, então, asfalto - ícone da modernidade e do desenvolvimento - ou você prefere uma rua pavimentada de pedras irregulares? (Ainda do caminho da ida, a rua do hotel onde estava hospedado era pavimentada com paralelepípedos, como muitas de minha cidade natal, há uns 15 anos.)

Este é um retrato meu de São Mateus. Aliás, parte do retrato de uma curta passagem na cidade, e que não consegue abranger tudo o que vi por lá.

13 setembro 2007

- Oi!

- Olá!!!

Fui um tanto efusivo, percebi imediatamente. Mas a resposta foi diretamente proporcional à surpresa de encontrar alguém que me reconhecesse num ônibus. Mas ela se fechou. Sim, fui muito efusivo, percebi logo.

Sentada duas fileiras à frente, o ônibus pouco cheio, ela não fez menção de se sentar mais perto. Talvez tenha pensado o mesmo que eu: "De onde?"

Essa foi a dúvida que me perseguiu durante dez ou quinze minutos, enquanto a fitava. Sabia que a conhecia, mas seu biotipo era um dos mais comuns entre as mulheres que conheci: magra, cabelos pretos, lisos e curtos, rosto levemente alongado, com o queixo bem delineado e a pele clara. Quem? Mais: qual seria seu nome?

E ela certamente me conhece. Não é possível que eu tenha um sósia nesta cidade. Pelo menos não acho possível. E tenho certeza de que a conheço. Só não sei de onde.

O trânsito não flui, então fito-a tentando entender e me lembrar. Trabalho? Não aqui, só se for numa unidade de outro estado - e como não houve notícias de visitas... Parente ou amigo de colega? Muito provável, diante do cenário atual.

Imprensa?... será? Qual veículo? Qual matéria? - as perguntas ecoam longos minutos.

O ponto dela chega.
- Até!
- Até!

Mas... de onde?

27 agosto 2007

Equilíbrio interessante

Por conveniência, recebo o jornal na varanda do meu apartamento. Primeiro andar, "vamos evitar confusões com jornais que somem no térreo", então a recomendação para o jornaleiro é: ou identifica o jornal e põe de qualquer jeito no chão, ou joga na varanda do assinante (duro é para quem mora nos apartamentos de fundo).

Todo dia, há uma edição esperando por mim, mais ou menos como nos filmes: um rolo de papel-jornal ao pé da porta - no meu caso, em algum lugar da exígua varanda - amarrado numa sacola plástica ou com um elástico. Mais raramente, dentro do saco plástico. (Descobri há algum tempo que o papel demora a perder a forma depois de algumas horas. )

Volta e meia tenho de aturar o síndico dizer em tom de brincadeira: "Vai acabarquebrando a sua janela!" Um dia ou dois tive de entregar ao vizinho o jornal dele, mas o contrário nunca aconteceu (senti falta do jornal um sábado... será?). Por algumas vezes eu tive de descer, ou porque o jornaleiro não quis arremessar, ou porque ele conseguiu acertar a grade que delimita minha varanda.

Sábado passado, o jornaleiro conseguiu colocar o jornal sobre a grade metálica (portanto, com alguma flexibilidade), cuja borda superior, de cinco centímetros de largura, fica a uns quatro metros do solo. Fui ver apenas no caminho para a padaria, depois de achar estranho o jornal não ter chegado. Uma pena não ter foto.

Ainda estou quebrando a cabeça com isso.

11 agosto 2007

A falta de

assunto, ou, o que é mais grave, até de um certo gás, acabou - vamos dizer - traindo um pouco as idéias originais.
(música incidental: "Rotina" (Inocentes, versão Titãs))

Certamente houve assunto, como certamente houve ânimo. Mas quase sempre esses momentos não coincidiram. Faltou tomar nota e mesmo acreditar que o timing não foi perdido.

Resultado, a idéia de ter dois blogs razoavelmente movimentados foi por água abaixo (e há água). Pelo menos no primeiro mês.
(música incidental:Cotidiano, Chico Buarque)

Avaliação de 40 dias, é o que acabou parecendo.

23 julho 2007

Cópias

Como de hábito, chovia. Fechou o guarda-chuva e pediu um café. Ao pagar, emendou:
— O senhor sabe onde posso tirar cópias?
— Naquele prédio, segue o corredor, a terceira loja à esquerda.

Parou de chover. Olhou o relógio, três e meia. O tempo parecia espremê-lo, apesar de não ser o último dia para fazer aquela solicitação. Era apenas o penúltimo. Os passos se seguiam rápidos e muito espaçados, intercalados com um breve salto sempre que surgia um buraco preenchido pela precipitação recente. Chegou ao prédio. Rapidamente viu a placa identificando a copiadora. Quatro pessoas aguardavam de pé, mais ou menos escoradas no balcão branco, com pouco mais de um metro de altura e menos de meio metro atrás da porta.

Ao se aproximar, pôde ver que havia quatro máquinas no local, mas uma estava sendo consertada. Uma senhora conta dinheiro no caixa, trocando cinqüenta reais para o funcionário da lanchonete. Outra cliente espera em frente à gaveta compartimentada e outros dois aguardam o atendimento. Dentro, dois rapazes conversam, enquanto um deles escreve uma mensagem no celular. Apenas uma moça tira cópias, atrapalhadamente, numa máquina mais ao fundo.

O jovem não quer causar confusão. "Há tempo, ainda", pensa, mas inquieta-se com a ausência dos dois, entretidos com o moderno aparelho de comunicação. Fita-os como se fosse um leão à espreita da zebra em meio à savana africana e ficou ali, imóvel, esperando que um dos dois reagisse ao menos instintivamente. Contou os segundos até quarenta e cinco sem a resposta esperada e voltou-se para a direita. Ah!, bela descoberta: a papelaria ao lado também tira cópias. Um pouco mais caro, é verdade, mas deve ser mais rápido.

A moça atrás do balcão tem a pele queimada do sol cotidiano, com algumas marcas que parecem ser espinhas retiradas a unha. O cabelo, um pouco mais claro que as sobrancelhas quase pretas, é liso à força e mostra-se bastante maltratado. Os olhos exprimem um certo desgosto de estar ali, distantes e fulminantes, olheiras querendo surgir.
— Quanto é a xérox?
— Vinte centavos.
— Esses quatro, frente e verso, três de cada, por favor.

Ela coloca os papéis sobre o vidro e fecha a máquina. O rapaz vê a primeira cópia surgir e não se contém. Antes mesmo de o papel mostrar-se todo, sentencia:
— Muito claro.
A resposta vem instantânea e consoante com o olhar.
— Vão sair todos assim.
Ele pega a folha e a rasga, ela devolve-lhe os originais. Na copiadora, outras três pessoas aglomeram-se ao balcão. "Não, outro lugar", pensa, devolvendo os papéis à pasta e seguindo para fora. Quinze para quatro. Hora de apertar o passo. Dois prédios adiante, pede informações ao balconista. Tudo por aquelas cópias, naquela tarde. "Na loja que vende cartuchos de impressora, ali adiante", informa-o, atenciosamente.

Dezenas de modelos de cartuchos de impressoras, para quase todas as marcas e modelos, tinta preta ou colorida. Fitas de impressora matricial. Cabos para monitor, mousepads, cds e disquetes. Pilhas e fones de ouvido. Pequenas lojas para pequenos apetrechos tecnológicos. Ao fundo da loja bem ornada com seu estoque, uma cliente deixa o dinheiro contado sobre o balcão, atrás do qual está o funcionário, um computador, uma impressora e uma fotocopiadora.
— Eu gostaria de tirar umas cópias.
— Vai demorar um pouco.

Já impaciente, não tem como controlar o olhar fulminante. A expressão assemelha-se à de um carcamano da Máfia nova-iorquina. Os músculos das costas tensionam erguendo os ombros. A cabeça abaixa e o rosto do atendente surge por cima dos óculos, que, acuado, quase gaguejando, informa:
— Vire aqui e ande um pouco. A porta verde escuro é uma copiadora.
— Obrigado — a voz sai gelada, os passos seguintes quase abrem crateras.

Chegou na loja de portas verdes. As máquinas são antigas e apenas um homem, com seus cabelos grisalhos querendo surgir, está entre elas.
— Boa tarde.
— Boa tarde. Eu queria tirar umas cópias.
— Pois não.
— Esses quatro, frente e verso, três de cada, por favor.
E vai para a máquina. Põe um papel sobre o vidro e aperta o botão.
— Claro assim, não, né? – e mostra o papel quase branco. – Vou escurecer mais um pouco para você.

Pacientemente ele aperta os botões da máquina e muito lentamente os papéis vão surgindo do outro lado da máquina. O jovem conta os minutos, passando um a um, enquanto o velho conta uma história qualquer que acontecera semanas antes. O telefone toca, tempo de olhar o relógio, quatro e doze, o guichê fecha em dezoito minutos, falta metade dos papéis e só a caminhada levaria mais da metade desse tempo.
— Pronto, quatro e oitenta.
— Fica por cinco – e entrega a cédula com a garça virada para cima. Carteira no bolso, papéis na pasta. – Obrigado.
— Obrigado a você, boa tarde.
— Boa tarde.

As folhas que têm cores não ficaram muito boas, as partes brancas ficaram "sujas". Mas, ora, ali estavam as cópias. Quatro e vinte e sete. Uma hora para tirar algumas fotocópias e uma tarde foi para o lixo. Mas ainda havia um dia. Apenas isso conteve sua vontade de atirar algo, qualquer coisa, longe.

12 julho 2007

Só há um caixa eletrônico no supermercado

Vejo tv deitado e penso: "Se eu saio às 8h40, chego às 8h50 e dá tempo de efetuar o pagamento." Checo o relógio e são 8h40: hora de correr. Não fosse o passo mais rápido, poderia rever a projeção para sete minutos nas próximas oportunidades.

"Não tenha fila, não tenha fila, não tenha fila..." Oito pessoas!
- Que horas são, por favor?
- Oito e cinqüenta e três.
- Muito obrigado.
"Fico, não fico; fico, não fico: fico."

A fila até anda rápido. Dá pra ver no terminal, entre as operações que a penúltima pessoa na minha frente realiza, algo como 20:57 no monitor.
"Tic, tac, tic, tac... Ele ainda tá aí?" Estava, parecia congelado. Mais um tic-tac e dá pra vê-lo dobrar o extrato e iniciar o saque.

Primeiro momento de revolta da noite. "Fila de caixa eletrônico de supermercado não é local para conferir o extrato, idiota!" é a primeira coisa que tenho vontade de gritar quando ele finalmente sai, mas exerço a contenção que - às vezes, admito - me é característica.

Chega a vez da moça à frente. 20:58, ainda. O movimento simples é: enfiar o cartão na máquina, tirar o cartão da máquina. A geringonça "lê" a tarja magnética na saída, portanto, é necessário obedecer à velocidade de um 386, usado nessas maravilhas tecnológicas.

A mulher tira o cartão como se estivesse sacando não dinheiro, mas a arma num duelo. Duas vezes. Deve ter olhado para trás e visto que meu semblante já não era dos mais amistosos. 20:59
- Problema no cartão... - é o que acho que ela murmurou com a voz sumida, enquanto esfregava o pedaço de plástico no cabelo.

Na terceira foi. Saldo, senha, código, Insira e retire seu cartão, diz a máquina. Insira novamente o cartão. Desta vez, parecia ter dado partida num motor de popa. Mais uma sessão de esfrega no cabelo.

"Moça, não adianta nada esfregar isso. Só tira o cartão da máquina mais devagar" é a frase do momento, um pouco mais contida, dita só com os movimentos labiais, os dentes cerrados. De onde alguém tirou que gerar atrito no cartão magnético resolve esse tipo de problema? Não é melhor - e mais racional - passar o cartão mais devagar?

(Lembro que funcionários (donos?) de pequenas lojas inventaram uma época que colocar um pedaço de saco plástico sobre a tarja do cartão melhora a leitura. Faziam isso até com fita adesiva! Será que não é óbvio que colocar um obstáculo, por definição, atrapalha as coisas?)

Saque: valor, senha. Problemas na leitura... De novo? Ela já sorri amarelo. Bato na testa, não dá mais. 21:01, ela saiu. 21:02, o cartão entra na máquina. Hope dies last.

Prazo expirado
Após o vencimento, cobrar 2% de multa e 0,33% de juros ao dia

07 julho 2007

Estou pensando em como não deixar nenhum dos meus dois endereços parado. A fórmula está quase pronta, mas não é tão certo que eu vá usá-la.

02 julho 2007

Desenferrujando

Um dos auto-diagnósticos meus de ultimamente é que ando a escrever pouco. Nem sempre no trabalho me dou a esse luxo. Aqui, de volta à blogosfera (urgh), todo o espaço do mundo, no velho novo desafio de muito escrever e bem o fazer. No mesmo velho estilo, dando pitaco em tudo (de política a futebol), fazendo de ventos e nuvens, crônicas e, da lua, poesia. Aliás, aqui terei também o quebrar das ondas para embalar efêmeras narrativas e areias para esculpir princesas que habitarão castelos construídos no alto das pedras.

01 julho 2007

A volta - em várias etapas

Um ano sem "postar" (urgh!) regularmente. Um novo ritmo de vida ao qual me adapto com sucesso relativo. Alguns equívocos evidentes, outros evidentíssimos, um e outro óbvios, absurdos e gritantes além de alguns muito bem disfarçados de sucesso. Como não há perfeição para um lado nem para o outro, há casos de sucesso verdadeiro.

O endereço do blog agora "sou" eu mesmo, sem 'grandes' pretensões.
O espaço, qual apartamento novo, vai sendo montado aos poucos - quase sem querer, do mesmo jeito que a casa antiga.

Aliás, os que foram convidados para o cantinho virtual, sintam-se também para o cantinho "real".

Adoro escrever "considerações". Vão mais umas três antes do retorno do blog ao ritmo, 'hum', normal.